O PAPA NÃO É POP, O PAPA É ARGENTINO: UMA LEITURA SEMIOLINGUÍSTICA DO SENSACIONAL SENSACIONALISTA

Camilla Ramalho Duarte

Resumo


O presente trabalho tem por objetivo analisar uma matéria do jornal virtual Sensacionalista, a saber, Papa se converte ao Ku Klux Klan, tentando desvendar as estratégias linguístico-discursivas de que lança mão tal veículo de comunicação para parecer isento de mentira, quando, na realidade, se autointitula isento de verdade. Partindo de conceitos e proposições gerais da Análise Semiolinguística do Discurso, cunhada por Patrick Charaudeau, pretende-se demonstrar como, de acordo com tal teoria, os parceiros da atividade linguageira nem sempre coincidem com os protagonistas, haja que vista que, muitas vezes, o sentido visado pelo comunicante não é apreendido pelo destinatário de tal texto, o que se pode observar, por exemplo, quando alguns sujeitos interpretantes, assimétricos aos destinatários, acabam por entender as notícias do Jornal Sensacionalista como sendo notícias produzidas com imparcialidade e credibilidade; credibilidade e imparcialidade essas que são comuns aos jornais de nosso dia a dia por meio do uso do jargão jornalístico que o Sensacionalista, por sua vez, faz questão de mimetizar. Torna-se necessário, ainda, falar do Contrato de Comunicação ao qual os parceiros da troca comunicativa estão submetidos, visto que toda troca linguageira se reporta a um quadro de referência que pode ser o mesmo para sujeitos sociais e discursivos ou pode ser diferente da expectativa – ou enjeu, no dizer de Charaudeau – que todos têm a respeito da troca. A notícia escolhida como corpus do presente trabalho acaba por girar em torno de uma personalidade do mundo: nada mais, nada menos que o sumo pontífice, desconstruindo a imagem de bom homem e de exemplo de santidade que o sujeito social papa Francisco possui, posto que diz que o argentino se converteu a uma antiga reunião de organizações racistas que ficou famosa nos Estados Unidos. Pensando nas definições de humor trazidas por Bergson (1987), Freud (1987) e Bakhtin (2010), é mister ressaltar que tal desconstrução só se tornou possível, pois o que pretende o discurso sensacionalista é fazer o destinatário rir, deslocando, então, seu discurso da rigidez cotidiana e do sério socialmente aceito e construído, conferindo-lhe o humor nonsense como ponto de partida e até mesmo, de chegada.


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