O CONSUMO DA MISÉRIA: RECEPÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA FAVELA EM QUARTO DE DESPEJO
Resumo
Em Ficção Brasileira Contemporânea, Karl Erik Schøllhammer chama à atençãopara um crescente aumento na demanda do público brasileiro por realidade. Vemos, assim, a proliferação de literaturas de cunho documental, sejam elas biografias,reportagens históricas diários etc. Um topos recorrente nesse tipo de obra, a representação de espaços marginalizados, sobretudo a favela, é amplamente abordada, seja na visão externa, e muitas vezes exótica, de intelectuais alheios àquela realidade, seja através da perspectiva dos próprios moradores dessas regiões, passando ainda por discursos de policiais, criminosos,políticos e presidiários. Se, hoje, tal modelo já se encontra plenamente instalado no mercado literário brasileiro, tanto na dita “alta literatura” quanto na literatura popular, a representação desse espaço remonta ao próprio surgimento das favelas. Autores como João do Rio e, posteriormente, Benjamin Costallat são bons exemplos de cronistas que já tentavam, no iníciodo século XX, apresentar à realidade desses espaços, ainda que, fosse necessário mais de cinquenta anos até que a favela encontrasse voz para contar a si mesma. Nesse contexto, um caso parece de grande importância: em 1958, bem antes da consolidação de uma literatura marginal no Brasil, Audálio Dantas descobre na favela do Canindé, em São Paulo, dezenas de cadernos contendo o cotidiano sofrido de Carolina Maria de Jesus, negra, mãe solteira e catadora de lixo, publicados posteriormente sobre o título de Quarto de despejo (1960).Fenômeno literário ímpar à época, este trabalho pretende explorar de que forma a violência, o crime e o medo são representados na obra de Carolina de Jesus e como tais elementos colaboram para o sucesso do livro, estabelecendo, ainda, um diálogo com a recepção literária de seu contexto de produção e a tradição da representação da favela na literatura brasileira.
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