UM TESTE CARTOGRÁFICO PARA A POESIA DE MARÍLIA GARCIA

Julya Tavares Reis

Resumo


O crescente interesse artístico pelos mapas têm sido frequentemente relacionado a uma curiosidade pela dissolução das fronteiras tanto espaciais – do mundo globalizado e das sociedades em rede –, quanto entre as artes – dos seus materiais e suportes. Os efeitos dessa aproximação, no entanto, podem ser pensados de modo mais intenso se tomados pelo gesto, isto é, pelo desejo de representar que de algum modo atravessa a arte e a cartografia, e não somente por uma espécie de temática. Principalmente desde a década de 1980, certa crítica tem percebido a arte por seu prisma relacional, movimentando-se entre a leitura de um poema, por exemplo, como texto, e aquilo que lhe escapa, que não se prende à palavra como fim último da escrita, embora tudo de algum modo passe por ela. Essa perspectiva relativiza os limites da arte na sua relação com o mundo, aproximando-a de um cotidiano afetivo que, todavia, não corresponde à centralidade e origem de um sujeito. O “afeto” pensado como “o estado de um corpo considerado como sofrendo a ação de um outro” (DELEUZE, 1978, s.p.) nos permite pensar no espaço como uma dimensão permeável, e a poesia como um corpo que afeta e é também afetado. Diante de tal espectro, este trabalho pretende abordar duas questões: a primeira delas se refere às possibilidades e implicações de uma relação com o espaço para além de um viés objetivo e racional, discutindo de que maneiras certa poesia contemporânea [no caso, a da poeta carioca Marília Garcia] tem experimentado os percursos afetivos. A segunda se propõe a testar o fazer poético em vizinhança com o ato de cartografar, tensionando o caráter autônomo que lhes foi atribuído ao longo da Modernidade.

 

PALAVRAS-CHAVE: poesia contemporânea; Marília Garcia; cartografia; escrita; vida.


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