ENTRE CÉUS E TERRAS: A NATUREZA BRASILEIRA PELO OLHAR DE VISCONDE DE TAUNAY
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo discutir, no contexto do Romantismo brasileiro, aspectos relacionados à representação da natureza em duas obras de Visconde de Taunay (1843-1899) – Inocência (1872) e Céus e Terras do Brasil (1882) – o primeiro um romance sertanejo, o segundo um relato de viagem. Pretende-se explorar como a técnica do registro, ou seja, a construção da paisagem pelo viajante interfere no trabalho do ficcionista, tendo em mente a equivalência muitas vezes estabelecida entre natureza e paisagem, e suas implicações na construção de uma perspectiva literária sobre o mundo natural do Brasil. Além disso, é importante entender a tradição de viagem – já que Taunay era um viajante – não apenas como produtora de conhecimento científico, mas também de impressões esteticamente válidas para os propósitos nacionais. Anne Cauquelin afirma em A invenção da paisagem que “as palavras podem mentir; a imagem, por seu lado, parece fixar o que existe” (2007, p.93), isto é, o que vemos acaba fixando-se com mais facilidade ao nosso imaginário. Taunay, portanto, parece utilizar desse “poder da imagem”, já que sua escrita volta-se para o elemento visual, com grande predominância de descrições construídas a partir de referências à linguagem do desenho e da pintura, e mesmo sua narrativa, se traduz em termos plásticos, ecoando aqui Antônio Cândido. A natureza observada e traduzida por Taunay é transformada em paisagem, já que se constrói uma sensação, diante das suas descrições, que nos remete a observações de quadros/cenas, ou seja, o mundo natural limitado a um enquadramento, totalmente organizado e ornado. Portanto, pretende-se compreender como se dá essa transição da técnica descritiva para os textos ficcionais do autor e como isso se relaciona ao papel conferido à natureza brasileira como um agente mediador no processo de construção identitária.
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