ESCRITA E IDENTIDADE FEMININA NO ROMANCE L’ENFANT DE SABLE DE TAHAR BEN JELLOUN.
Resumo
RESUMO
Na Dissertação de Mestrado Escrita e identidade feminina no romance L’Enfant de sable de Tahar Ben Jelloun, estuda-se a metáfora literária como lugar de (re)construção de memórias e identidades culturais. O jogo de (re)construção identitária é analisado através do diálogo entre as múltiplas vozes narrativas que cruzam o romance como forma de reconstituição da “verdadeira” história da personagem central da obra, identificada como Ahmed-Zahra.
Na (re) construção das memórias de infância, a personagem Ahmed, protagonista da narrativa, em busca de sua verdadeira identidade, procura conhecer-se, uma vez que, tendo nascido mulher, foi criada como homem. Essa memória é construída e revivida ora pelas páginas escritas do diário de Ahmed, personagem, ora pelas narrativas feitas pelos contadores de histórias que reivindicam para si, cada qual, a verdadeira história da protagonista do romance, fazendo ressoar na obra diversas vozes narrativas que compõem o enredo de L’Enfant de sable. A dupla identidade de gênero é tensionada no confronto das diferentes versões veiculadas pelos diferentes narradores que requerem para si a verdadeira versão da história de vida da protagonista do romance. A construção da identidade da personagem central ganha forma no “entre-lugar” conflituoso e crítico da intertextualização entre as múltiplas vozes narrativas. Na tessitura da trama narrativa desenvolve-se a história do nascimento de uma menina que tem sua verdadeira identidade furtada como forma de proteger a herança familiar e o legado da família. É a partir dessa farsa familiar que se constrói o enredo do romance, uma vez que a busca da identidade de Ahmed-Zahra passa pela busca da verdade sobre si mesma. Como homem, a personagem assume a identidade de Ahmed, imposta pelo pai e, como mulher, identifica-se com o nome de Zahra, que ele/ela mesma escolheu para si. Vivendo assim, “entre dois mundos”, o mundo da Medina, destinado aos homens, e o mundo do oikos, destinado às mulheres, Ahmed-Zahra possui o passaporte que lhe permite transitar por esses dois espaços culturais tão diferentes.
O resgate da memória de Ahmed-Zahra, através da escrita, nada mais é que a busca da verdadeira identidade da protagonista que, ao escrever, tenta se descobrir e se inserir como ser na sociedade do Maghreb[1]. Para ele/ela separar esses dois mundos é algo impossível, porém, a necessidade de se conhecer e de se fazer conhecida levará a personagem a uma “odisseia” de vida. Nas múltiplas vozes narrativas do romance, insere-se a cultura do Norte da África, onde se destaca a prática da narrativa oral como fonte de preservação da tradição de seu povo. Ao fazer uso da prática narrativa, a personagem revive a tradição de contar histórias como resgate de sua própria identidade.
Palavras-chave, narrativa feminina, identidade, escrita, oralidade, memória.
[1] Região situada no noroeste da África que abrange o Marrocos, o Sahara Ocidental, a Argélia e a Tunísia (Pequeno Maghreb ou Maghreb Central), a Mauritânia e a Líbia (Grande Maghreb).
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