O ENFIM E SEUS USOS FUNCIONAIS
Resumo
Este artigo se dedica ao estudo do advérbio enfim, observando os contextos linguísticos para os quais é recrutado e os valores semânticos e sintáticos que essa partícula pode assumir. Para isso, utilizamos o aporte teórico da Linguística Funcional Centrada no Uso, uma vez que nosso objetivo é descrever e sistematizar os usos funcionais do enfim em contextos reais.
Em incursões nas gramáticas tradicionais e dicionários, foi possível verificar que o enfim é, basicamente, referido como advérbio de tempo (HOUAISS, 2015). No entanto, alguns autores abordam o enfim com valor semântico resumitivo-conclusivo – atuando como operador argumentativo – ou, ainda, como marcador discursivo, quando observamos opacidade semântica e percebemos sua atuação no nível pragmático (FRASER, 2006 e PENHAVEL, 2010).
Para este artigo, utilizamos os dados de língua escrita (a partir daqui, LE) do D&G e da Revista Veja On-line, procurando contrastar o nível de monitoramento dos usos linguísticos em ambos os corpora, com o objetivo de flagrar os diferentes usos do enfim em situações discursivas diversas.
Esses dados são tratados quantitativa e qualitativamente, uma vez que tanto a frequência de uso quanto a descrição do ambiente linguístico que permeiam o enfim são importantes para flagrar seus valores semânticos e sintáticos.
Nossa hipótese é a de que o enfim seja uma partícula multifuncional passando por transformação e expansão de significado em um continuum, que parte de a) um valor semântico de tempo (relacionado a sua abordagem canônica de advérbio), b) passa pelo valor semântico de resumitivo-conclusivo, em que funcionaria como operador argumentativo; até chegar a c) uso do enfim como marcador discursivo (TEMPO > RESUMO > MARCADOR DISCURSIVO). Esse cline pode estar associado com a escala ESPAÇO > TEMPO > TEXTO apresentada por Heine et alii. (1991).
Os resultados parciais nos revelam que o valor semântico de resumitivo-conclusivo é mais produtivo em contextos de LE menos monitorada e em eventos de língua oral formal, que foram os usos encontrados nos discursos diretos transcritos nos dados da Revista Veja On-line; e que há grande produtividade do valor de tempo nos dados de LE mais monitorada, principalmente nas sequências tipológicas narrativa e expositiva.
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