ENTRE REALISMO E FANTÁSTICO: A DUALIDADE ESTÉTICA E TEMÁTICA NA OBRA DE GUY DE MAUPASSANT

Fabiane Alves Martins

Resumo


Este artigo tem como objetivo analisar o duplo lugar que o escritor Guy de Maupassant ocupa na literatura francesa, a partir das novelas O Horla (2011) e A pequena Roque (1990), uma vez que o autor se destaca como um dos principais representantes tanto do movimento realista quanto do gênero fantástico na França. Maupassant reinventa o fantástico por meio da inserção de elementos ligados a patologias mentais, que não só se mostram como pano de fundo de suas narrativas, como também auxiliam na construção da dúvida, essencial na literatura fantástica. A patologia se inscreve como possível explicação racional de eventos que apontam para a presença do sobrenatural, pois, para haver o fantástico, é necessária uma hesitação quanto à interpretação dos fatos narrados, que podem ou não responder às leis do mundo natural, sendo o fantástico considerado por Todorov (1970) como o gênero da incerteza. Para poder hesitar entre as possíveis explicações, o leitor deve entender o mundo à sua frente como representante fiel da realidade em que vive. Essa preocupação com a veracidade dos fatos narrados também é característica da escola realista, que busca a verossimilhança através do reflexo da realidade (MAUPASSANT, 2015), o que auxilia na construção do efeito fantástico. Como aporte teórico acerca do realismo, destaca-se a obra de Lukács (2012), que define o herói desse tipo de narrativa como um ser problemático, sempre tentando encontrar seu lugar em um mundo fragmentado. Finalmente, para a compreensão do uso de patologias por Maupassant, foi utilizada a obra de Guardia (1861), que identifica a modificação radical no século XIX sobre a percepção da loucura e a apropriação de toda uma nomenclatura médica na literatura.


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