TRANSINVESTIGAR: NEM HOMEM, NEM MULHER, NEM ENIGMA, NEM NOIR
Resumo
A literatura detetivesca é considerada um gênero literário marginal ao ser comparada com a centralidade das literaturas consideradas cânone. Ao direcionar o olhar a pessoas, estas também são postas em marginalidade ao não seguir os modelos de gênero considerados hegemônicos. Partindo dessas marginalidades, o seguinte trabalho visa analisar como essas marginalidades se juntam para questionar os modelos hegemônicos de gênero e de narrativa ao se utilizar na obra Batons, assassinatos e profetas de Mehmet Murat Somer (2010) de uma personagem Trans exercendo o papel de detetive em busca de um serial killer que tem como alvo as travestis locais. O objetivo é analisar como ao questionar os gêneros sociais e literários hegemônicos, a obra também questiona os modelos gêneros dos quais se utiliza (transgêneros e narrativas detetivescas) a fim de confrontar a hegemonia criada na marginalidade que assume o papel de cânone marginal, ou seja, como alguém que não é homem nem mulher se utiliza de uma narrativa detetivesca que não é nem de enigma e nem noir a fim de questionar a cisgeneridade, a binaridade transgênera e a hegemonia de detetives como Holmes e Poirot. Para tanto, pensadores como Kayman (2003), Holquist (1971), Gomel (1995), Saggs (2005) e Grella (1988) nos auxiliarão a compreender as narrativas detetivescas, enquanto Jesus (2015), Vergueiro (2015), Louro (2003) e Stryker (2008) nos ajudarão a compreender os gêneros sociais e seus questionamentos. Assim, veremos como algo novo surge da marginalidade e de suas tensões com a hegemonia.
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PDFReferências
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