MATIZES DE CORES E DE SENTIMENTOS EM MANCHETES POPULARES
Resumo
O objetivo desta pesquisa semiolinguística é descrever, em manchetes do jornal popular Meia Hora publicadas em 2018, como as cores vermelha e preta podem suscitar possíveis efeitos emocionais, representando uma importante estratégia de captação. Segundo a Análise Semiolinguística do Discurso (cf. CHARAUDEAU, 2009), a semitização do mundo é compreendida como o duplo processo de transformação (a conversão de um “mundo a significar” em um “mundo significado”) e de transação (a conversão do “mundo significado” em um objeto de troca entre os sujeitos do ato linguageiro). De acordo com esse modelo teórico, para atribuir significado à realidade, manipulam-se diferentes semioses – dentre as quais, destacam-se, no jornalismo popular, as cores presentes principalmente nos caracteres e nas imagens constituintes das manchetes. Para, então, analisarmos tais formas imagéticas, recorremos à Semiótica (cf. PIERCE, 1995; SANTAELLA, 2002), segundo a qual o signo, em sua constituição triádica (o significante, o objeto e o interpretante), é categorizado, a partir de seus fundamentos (a propriedade, a existência em relação a outros signos e a lei), em quali-signo icônicos (constituídos por similaridades), sin-signo indiciais (delimitados por sua singularidade) e legi-signo simbólicos (definidos por convencionalidades). Paralelamente, partindo do pressuposto de que as cores, como uma linguagem individual, exercem efeitos fisiológicos e psicológicos, exploraremos, sob a perspectiva teórica da Psicologia (cf. FARINA et alii, 2011; HELLER, 2008), a potencialidade de produzirem impressões, sensações e reflexos sensoriais. Por fim, pela possibilidade de, em determinado enquadramento sociocultural, assumirem polarizações de sentido, as cores serão relacionadas às tópicas patêmicas, em seus polos positivo e negativo (cf. CHARAUDEAU, 2010). Os resultados demonstram que as cores analisadas consistem em significativa forma de captação e em importante ferramenta mercadológica.
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PDFReferências
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