A semântica do vocábulo expectativa em corpora dos séculos XX e XXI

Daniel Felix da Costa Jr.

Resumo


De acordo com o Houaiss (2009), a origem do vocábulo “expectativa” remonta ao latim medieval, emitindo-se no sintagma “gratia expectativa” e derivando de “exspectatum”, que é supino do verbo “exspectāre”. Essa constatação permite a inferência de que ele advém de um verbo latino de 1ª conjugação com morfemas que se diluem em “ex-” (movimento para fora) e “-spectō” (observar, olhar para). Dois processos cognitivos, de base metafórica, estão presentes nesse prelúdio: um suportado pelo esquema imagético do contêiner (dentro-fora) e o outro suportado pela experiência sensória de “ver” associada à experiência de “conhecer” intelectivamente. Com base nos preceitos da Linguística Cognitiva, este trabalho investiga a atuação do vocábulo “expectativa” pelo viés semântico-lexical em dois corpora: a) gênero/histórico de Davies e Ferreira (2006), caracterizado por textos datados até o século XX; e b) web/dialetos de Davies e Ferreira (2016), caracterizado por textos digitais de blogs e sites, publicados na primeira metade da década de 2010. Um dos objetivos é descrever as adaptações/mudanças semânticas do conceito emocional em suas respectivas sincronias, contribuindo assim, para o objetivo maior de descrever o campo semântico (frame) da expectativa em língua portuguesa. Em uma abordagem de frequência quantitativa, verificou-se a aproximação semântica dos vocábulos mais colocados para o token pesquisado. Dois desses colocados merecem destaque entre os mais frequentes: “ansiedade” e “ansioso” – ambos atuando em movimentos opostos, apesar de possuírem a mesma base lexical. Os resultados obtidos, até a atual etapa da pesquisa, têm demonstrado uma tendência sutil: a de que o vocábulo da “expectativa” esteja a aproximar-se do campo semântico das patologias no corpus mais recente – fato que pode indicar uma readaptação que mereça ser considerada em futuras investigações deste conceito emocional.

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Referências


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