Contribuições da neurolinguística para um estudo dos períodos sensíveis ao letramento formal

Resumo

É observável e crescente, na cultura escolar, o caráter prioritário que o letramento formal tem adquirido nas práticas de educação infantil, com isso, sobre a formalização da leitura/escrita, recai grande parte das atividades dedicadas às crianças nesse nível de ensino.  Recentes pesquisas da neurociência cognitiva demonstram como se dá a recepção da leitura pelo cérebro, constituindo um conhecimento bem-vindo às propostas pedagógicas que visam o letramento. Velasques e Ribeiro (2014) descrevem o cérebro como um órgão que apresenta períodos sensíveis para determinados tipos de aprendizagem. Pesquisas revelam que o período crítico do desenvolvimento da atenção situa-se entre 6 e 12 anos de idade, coincidindo com o pico de maturação/desenvolvimento cerebral e estágio de perfeição motora, sobre os quais recaem os aspectos neurológicos do sistema atencional no plano da palavra. Pesquisas de Dehaene (2012) descrevem o funcionamento do circuito cerebral da leitura. Dentre aspectos de relevância encontram-se contato visual e limites que a visão impõe à leitura, complexidade das relações grafema/fonema e sistemas de significação. A leitura se dá por consequência de uma interface entre a área visual de formação de palavras e a língua falada já adquirida pela criança. Segundo Consenza e Guerra (2011), técnicas de neuroimagem funcional revelam que crianças que apresentam dificuldade na leitura não ativam, enquanto leem, as áreas relacionadas à forma da palavra e decodificação fonológica, demonstrando que a neuroplasticidade para a fonologia é essencial ao aprendizado da leitura. Este trabalho concentra-se em referenciais teóricos que buscam delinear o comportamento do cérebro durante a leitura relacionando os períodos sensíveis a tal aprendizado. Seu objetivo é dar sustentação a experimentos psicolinguísticos os quais visam avaliar o impacto do trabalho com letramento formal antes dos 6 anos de idade, estando previstos como parte final da pesquisa.