A LUTA POLÍTICO-LINGUÍSTICA SURDA NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS

Alexandre Guedes Pereira Xavier

Resumo


O campo das Políticas Linguísticas vem estudando, cada vez mais, os modos pelos quais as relações sociais internas e externas às comunidades linguísticas atuam politicamente sobre a língua. Como exemplo, pesquisa realizada em noventa e três países sobre a condição linguística das pessoas surdas revelou que o seu acesso à informação e ao debate de ideias depende do status de suas línguas de sinais e atua sobre as condições para sua cidadania. Nos dez anos de uma Convenção das Nações Unidas que trouxe a identidade linguística surda para o quadro do Sistema Internacional de Direitos Humanos (ONU, 2008), estudar de que modo, em diferentes países, ativistas dessa minoria linguística aparecem na esfera pública demandando políticas para mudança no status de suas línguas de sinais mostra-se relevante para o objetivo de dimensionar de que maneiras a identidade linguística – na minorização pela língua oral dominante ou na afirmação das línguas de sinais – se relaciona com a cidadania de pessoas surdas. O presente trabalho focaliza os processos pelos quais, entre 2012 e 2013, no Brasil e nos Estados Unidos, duas mulheres surdas, ativistas, interpelaram o Poder Público em prol de políticas linguísticas e educacionais relacionadas às línguas de sinais das respectivas comunidades surdas. O quadro teórico-metodológico adotado inclui os conceitos de Política, Polícia e Desentendimento (RANCIÈRE, 1996); Minorização Linguística (ARACIL, 1983; CALAFORRA, 2003); Glotopolítica (GUESPIN & MARCELLESI, 1986; ARNOUX, 2016); Identidade Legitimadora e Identidade de Resistência (CASTELLS, 2010); Luta por Reconhecimento (HONNETH, 1995). Resultados parciais da análise sugerem haver uma disputa de sentidos sobre a língua das pessoas surdas – língua oral ou de sinais – e sobre o status político da pessoa surda como demandante, o que sugere a importância de estudos aprofundados sobre o dimensionamento político da questão linguística na esfera pública.

 

PALAVRAS-CHAVE: políticas linguísticas; línguas de sinais; minorização; reconhecimento.


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Referências


REFERÊNCIAS

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