BECKETT E DELEUZE: REPETIÇÃO CRIADORA

Ana Paula Moreira Duro

Resumo


A obra teatral de Samuel Beckett se caracteriza pela forte presença da repetição, que se opõe à estrutura da ação dramática tradicional, e que produz variação, movimento e, finalmente, a própria criação. A ação não contém acontecimentos, ela é movida pelo tempo e pela repetição de algo passado. A repetição de situações, palavras ou ações traz a possibilidade da diferença, faz transparecer ideias, sensações e imagens além do verbal. Utiliza-se a palavra para alcançar o não-verbal. A linguagem é excedida, extrapolada, e o sentido é esboçado dentro do movimento produzido em seu interior. Segundo Gilles Deleuze, Beckett é um escritor que consegue ir além da linguagem, quebrar com a representação e produzir a diferença. Através de seu trabalho com a linguagem ele é capaz de criar “imagens puras”, singulares, potentes e intensas, destituídas de racionalidade ou subjetividade. Neste primeiro momento da pesquisa, apresentaremos e analisaremos exemplos de repetições – palavras, frases, gestos, situações – presentes na peça Esperando Godot e sua importância como meio utilizado para criar uma linguagem que desestabiliza a significação das palavras. Relacionaremos as principais ideias apresentadas por Deleuze em seu texto sobre Beckett intitulado “O esgotado” com os exemplos de repetição na peça escolhida. Introduziremos o conceito de “esgotamento” e mostraremos a potência da obra de Beckett, que segundo o filósofo supracitado, esgota o possível criando relações disjuntivas que afirmam a diferença.

PALAVRAS-CHAVE: Beckett, Deleuze, Repetição, Esgotado.


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