REFLEXÕES SOBRE O DEBATE INTELECTUAL NOS ROMANCES REPRODUÇÃO, DE BERNARDO CARVALHO E VERÃO, DE J. M. COETZEE

Paula Alves das Chagas

Resumo


Este trabalho tem por objetivo problematizar uma questão corrente no atual panorama dos estudos literários: a superexposição da figura do autor na mídia, que tem contribuído para a transformação do escritor em “intelectual de plantão”, como afirmou Silviano Santiago em O cosmopolitismo do pobre (2004). Para tal, pretendemos discutir a relação entre a imagem intelectual assumida pelos escritores Bernardo Carvalho e J. M. Coetzee perante a mídia literária, bem como a reflexão crítica promovida em sua escrita ficcional, a partir do estudo dos romances Reprodução (CARVALHO, 2013) e Verão (COETZEE, 2009). Conforme Santiago, “a entrevista serve muitas vezes ao escritor de trampolim para discussões públicas sobre idéias implícitas na obra literária” (SANTIAGO, 2004, p. 65). Neste cenário, o texto literário é, muitas vezes, preterido em relação à imagem intelectual assumida pelo escritor, que desempenha também a função de “administrador de cultura” (BAUMAN, 2111; 2013). Ao observar a ficção de Carvalho e Coetzee, nota-se uma forte reflexão sobre a “banalidade da escrita”, o debate intelectual e o papel assumido por escritores, jornalistas e críticos no meio cultural em que atuam. Os romances estudados neste trabalho promovem uma ampla discussão acerca do tratamento da arte como produto a serviço do crescente mercado literário. Interessa-nos, sobretudo, o discurso atribuído aos personagens Vincent (Verão) e o estudante de chinês (Reprodução), no que se refere à escassez do debate intelectual nos principais meios de comunicação de massa. Portanto, estabeleceremos uma comparação entre alguns dos diálogos que compõem os citados romances: em Reprodução, trata-se da primeira parte do livro, na qual o estudante de chinês é interrogado; em Verão, as entrevistas concedidas ao personagem biógrafo Vincent. Integram a base teórica desta pesquisa as entrevistas concedidas por ambos os autores, além do pensamento crítico desenvolvido por Lucia Helena, sobretudo em seus dois últimos livros (2010, 2012).

PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Mercado. Debate intelectual. Bernardo Carvalho. J. M. Coetzee.


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