REPARAR A PERDA OU RIR À BEIRA DO ABISMO: AS ESCRITAS ELEGÍACAS DE JORGE GOMES MIRANDA E JOSÉ MIGUEL SILVA
Resumo
O mundo contemporâneo é caracterizado pela experiência da perda, do vazio e da falta. O discurso elegíaco firma-se na poesia portuguesa recente como o modo privilegiado de dizer essa experiência de perda nas grandes cidades capitalistas. No entanto, não se trata aqui de uma elegia que se limite a lamentar a perda de um objeto dileto, como vulgarmente se atribui ao discurso elegíaco, mas de uma escrita lírica que denuncia a condição de perda ao mesmo tempo que resiste a ela. Com esse entendimento de elegia enquanto discurso de resistência, analisamos comparativamente as escritas poéticas de Jorge Gomes Miranda e José Miguel Silva, poetas portugueses que começaram a publicar no apagar do século XX. A poesia do primeiro é atravessada pelo anseio de reparar a situação de perda do mundo contemporâneo, ainda que tragicamente consciente de seu inevitável fracasso; ela atualiza a função educativa da elegia grega arcaica e clássica e a perseguição de um ideal da elegia romântica, num esforço por conscientizar o leitor em direção à realização de um determinado ideal de homem e de sociedade. Quanto a José Miguel Silva, sua poesia aprofunda o sentimento de desencanto e niilismo característico da poesia dos séculos XX e XXI, mas agora movida por um riso sarcástico que derruba os baluartes morais da sociedade de consumo.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia portuguesa contemporânea, elegia, Jorge Gomes Miranda, José Miguel Silva.
Texto completo:
PDFApontamentos
- Não há apontamentos.