ANAMORFOSES E JOGOS ESPECULARES NA FICÇÃO DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Mariana Andrade da Cruz

Resumo


No presente trabalho, desejamos aproximar o conceito pictórico de anamorfose aos romances do autor português contemporâneo António Lobo Antunes, estabelecendo uma relação interartística. Para José Antonio Maravall, as anamorfoses “representam a aplicação de um saber calculado que, se possui algo de magia natural – enquanto manejo de recursos naturais difíceis de alcançar – é, também, um saber rigorosamente geométrico”. Affonso Romano de Sant’Anna diz que trata-se de “um rebatimento da imagem, que pode ser recomposta em sua forma convencional, quando observada de outra perspectiva”. Bastante praticadas no período barroco, as anamorfoses consistiam em gravuras que apareciam ora sozinhas, ora inseridas em telas, e que se mostravam como um enigma diante do olhar do espectador, que precisava sair de uma visão centralizadora para decifrar a imagem esboçada. Maria Alzira Seixo se vale de tal ideia ao dizer que, na tessitura polifônica praticada por Lobo Antunes em suas obras, “vários tipos de narrativa, concomitantes, comunicam a representação do mundo em modo de anamorfose”. A aproximação é possível, pois, novamente de acordo com Seixo, os romances do autor são característicos por apresentarem “uma narrativa de sequencialidade entrecortada mas suscetível de uma recomposição apreensível”. Essa característica é verificável em muitas de suas obras, nas quais um mesmo fato é contado por diferentes personagens, o que traz, a cada momento, uma perspectiva diferenciada, em um puzzle especular, à semelhança dos enigmas pictóricos. Pretendemos selecionar exemplos de algumas obras do autor para exemplificar como a técnica da pintura encontra uma correspondência na prática literária. O trabalho deriva de uma pesquisa de doutorado em andamento, a ser finalizada em breve, sob a orientação do Prof. Dr. Silvio Renato Jorge.


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