O ESTRANGEIRO E O PAI: A ESCRITA ÍNTIMA EM AZUL-CORVO, DE ADRIANA LISBOA, MAR AZUL, DE PALOMA VIDAL, E O INVENTÁRIO DAS COISAS AUSENTES, DE CAROLA SAAVEDRA
Resumo
A literatura brasileira contemporânea pode ser caracterizada pela incidência de narrativas centradas na individualidade, as quais Leonor Arfuch (2010) denomina “escritas de si”. Estas se inserem no “espaço biográfico”, onde a privacidade e a intimidade das personagens tornam-se públicas ao serem expostas, configurando-se, assim, não como esferas opostas, mas como um lugar heterogêneo e ambíguo. É nesse relato subjetivo que a escrita revela ser um importante instrumento na busca pelo (re)conhecimento de si e também do outro, já que é na relação com ele que a alteridade se constrói: é impossível falar de si sem falar dele. A identidade, então, é entendida, segundo Stuart Hall (2011), como um processo contínuo, construída ao longo da vida, mediante o contato social. É diante disso, e da tentativa de conhecer e compreender esse outro, que as histórias de Azul-corvo (2010), de Adriana Lisboa; Mar azul (2012), de Paloma Vidal, e O inventário das coisas ausentes (2014), de Carola Saavedra, desenvolvem-se. Neste trabalho, ele, que se caracteriza como o desconhecido, será analisado através de duas perspectivas: a do pai ausente e a do país estrangeiro. O primeiro configura-se como aquele que parte e abandona, enquanto o segundo é descrito pela sensação de não-pertencimento e do deslocamento em relação à cultura estrangeira. Assim, a escrita de si permite um olhar distanciado de si e do outro (LEJEUNE, 2014) e a construção das identidades das personagens, ao refletir acerca do estranhamento com o pai e com a cultura local.
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