A LUZ CONTRA A BARREIRA DA CHUVA: O ESTRANHO EM OS PAPÉIS DO INGLÊS, DE RUY DUARTE DE CARVALHO E O CORAÇÃO DAS TREVAS, DE JOSEPH CONRAD

Natália Meireles Rodrigues

Resumo


O presente trabalho procura analisar comparativamente as obras Os papéis do Inglês, de Ruy Duarte de Carvalho e O Coração das trevas, de Joseph Conrad. Ao analisar essas obras, será colocada em foco a questão do estranho. O estranho emerge, durante as narrativas na condição de estrangeiro, já que as personagens se encontram em lugares que não condizem com sua pátria, faz-se presente no encontro entre diferentes culturas e é o que leva as personagens a ver o que realmente se encontra em seu interior, no íntimo do coração humano. Entretanto, esse autoconhecimento leva a representações diferentes, o que enriquece as possíveis interpretações suscitadas pela presença de Conrad em Carvalho. Com isso em mente, o propõe-se analisar os possíveis diálogos entre as obras para explicitar como cada uma se estrutura e como os enredos se desenvolvem, explorando a relação intertextual entre os textos. Opta-se pela utilização de estranho, aqui, no que a palavra faz referência ao familiar e não-familiar, ao inquietante, ao desconhecido, ao espanto, ao horror, ao que é meu e o que é do outro e na afirmação que é no outro que construímos o próprio. Durante a análise das obras, pretende-se demonstrar como o contato entre estranhos leva a caminhos diferentes: em Conrad, somos levados a ver esse contato como algo que nos leva às trevas do coração humano, em Carvalho tal contato é, também, – e de maneira mais importante – luz.

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