MATIZES DE CORES E DE SENTIMENTOS EM MANCHETES POPULARES

Rafael Guimarães Nogueira

Resumo


O objetivo desta pesquisa semiolinguística é descrever, em manchetes do jornal popular Meia Hora publicadas em 2018, como as cores vermelha e preta podem suscitar possíveis efeitos emocionais, representando uma importante estratégia de captação. Segundo a Análise Semiolinguística do Discurso (cf. CHARAUDEAU, 2009), a semitização do mundo é compreendida como o duplo processo de transformação (a conversão de um “mundo a significar” em um “mundo significado”) e de transação (a conversão do “mundo significado” em um objeto de troca entre os sujeitos do ato linguageiro). De acordo com esse modelo teórico, para atribuir significado à realidade, manipulam-se diferentes semioses – dentre as quais, destacam-se, no jornalismo popular, as cores presentes principalmente nos caracteres e nas imagens constituintes das manchetes. Para, então, analisarmos tais formas imagéticas, recorremos à Semiótica (cf. PIERCE, 1995; SANTAELLA, 2002), segundo a qual o signo, em sua constituição triádica (o significante, o objeto e o interpretante), é categorizado, a partir de seus fundamentos (a propriedade, a existência em relação a outros signos e a lei), em quali-signo icônicos (constituídos por similaridades), sin-signo indiciais (delimitados por sua singularidade) e legi-signo simbólicos (definidos por convencionalidades). Paralelamente, partindo do pressuposto de que as cores, como uma linguagem individual, exercem efeitos fisiológicos e psicológicos, exploraremos, sob a perspectiva teórica da Psicologia (cf. FARINA et alii, 2011; HELLER, 2008), a potencialidade de produzirem impressões, sensações e reflexos sensoriais. Por fim, pela possibilidade de, em determinado enquadramento sociocultural, assumirem polarizações de sentido, as cores serão relacionadas às tópicas patêmicas, em seus polos positivo e negativo (cf. CHARAUDEAU, 2010). Os resultados demonstram que as cores analisadas consistem em significativa forma de captação e em importante ferramenta mercadológica.


Texto completo:

PDF

Referências


CHARAUDEAU, Patrick. Grammaire du sens et de l’expression. Paris: Hachette, 1992.

_____. Les conditions de compréhension du sens de discours. In.: Anais do encontro Franco-Brasileiro de Análise do Discurso. Rio de Janeiro: CIAD – Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso – Faculdade de Letras da UFRJ, 1995. p. 09-16.

_____. Identité sociale et identité discursive, le fondement de la compètence communicationelle. Gragoatá, Niterói, n. 21, p. 339-354, 2º sem. 2006.

_____. Linguagem e discurso: modos de organização. [coord. da equipe de tradução: Angela M. S. Corrêa & Ida Lúcia Machado]. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2009.

_____. A patemização na televisão como estratégia de autenticidade. [tradução: Renato de Mello]. In.: MENDES, Emília & MACHADO, Ida Lucia. (orgs.). As emoções no discurso. Volume 2. Campinas: Mercado Letras, 2010, p. 23-56.

_____. Imagem, mídia e política: construção, efeitos de sentido, dramatização, ética. In.: MENDES, Emília. (org.). Imagem e discurso. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2013, p. 383-405.

CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. [coord. de tradução: Fabiana Komesu]. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.

FARINA, Modesto et alii. Psicodinâmica das cores em comunicação. 6. ed. São Paulo: Bucher, 2011.

HELLER, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo: Editora G. Gili, 2008.

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 1995.

SANTAELLA, Lucia. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

SANTOS, Patrícia dos. As manchetes sensacionais e o infotenimento: uma análise do jornal Meia Hora. Monografia para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. Faculdade de Comunicação Social / Jornalismo – Universidade Federal de Viçosa, 2013.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.