DE CIRCUNSTÂNCIA A ARGUMENTO: PROCESSO DE TRANSITIVIZAÇÃO DE VERBOS MONOARGUMENTAIS

Monclar Guimarães Lopes

Resumo


Este artigo visa à descrição do processo de transitivização pelo qual passam os verbos monoargumentais “aparecer”, “desaparecer” e “sumir” no Português Brasileiro. Tais verbos, a despeito de serem considerados inacusativos na literatura tradicional (na medida em que são intransitivos e selecionam como sujeito um termo de papel paciente), apresentam-se frequentes em construções transitivas indiretas em nossa sincronia. Defende-se que tal mudança representa um processo de gramaticalização e construcionalização, motivado, sobretudo, pela estrutura conceptual humana. Nessa perspectiva, adjuntos adverbiais de traço agentivo (como as circunstâncias de “causa”, “condição” e “instrumento”) seriam promovidos à posição de sujeito, partindo de uma construção “sujeito paciente + verbo + adjunto adverbial” para uma outra: “sujeito agente + verbo + objeto indireto”. Tal hipótese é bastante plausível, na medida em que tais adjuntos permitem a transposição para uma construção em que eles passem a funcionar como sujeito e o sujeito gramatical, como objeto indireto, como podemos comprovar nos corpora analisados. Não obstante, vale ressaltar que esse processo de construcionalização (isto é, de uma FORMANOVA SENTIDONOVO) é escalar, e não abrupto. Nesse sentido, os adjuntos adverbiais de “causa”, “condição” e “instrumento” passam por um processo de reanálise, em que são interpretados semanticamente como um tipo de argumento do verbo, embora ainda mantenham a mesma estrutura sintática.

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