A MARGINALIZAÇÃO DO CUIDADO NO DISCURSO POLÍTICO MODERNO: REFLEXÕES SOBRE OS LIMITES DA ESFERA PÚBLICA BURGUESA

Resumo

O trabalho tem por objetivo apresentar os fundamentos do discurso moderno de separação entre as esferas pública e privada a partir de John Locke (Segundo Tratado sobre o Governo), Jean Jacques Rousseau (Do Contrato Social e Emílio ou Da Educação) e Friedrich Engels (A origem da família, da propriedade privada e do estado). Discute como estas narrativas políticas entre os séculos XVII e XIX consolidaram as fronteiras entre o espaço da política e da produção (público) e o lugar dos afetos e da reprodução (privado), legitimando o desenvolvimento do Estado capitalista moderno. Questiona a naturalidade e a necessidade ética desta fronteira, com o apoio das críticas de Carole Pateman. Aborda as relações de poder, especialmente as de gênero, que sustentam a primazia das dinâmicas sociais que ocorrem na esfera pública (centradas na competição por recursos de poder político e econômico) sobre as interações humanas no âmbito doméstico (baseadas em trocas de cuidado). Trata dos grandes discursos que fundamentam a despolitização das relações de cuidado, com ênfase nas narrativas do contrato social, de modo a construir as bases críticas para análise dos romances Amada (Toni Morrison), El Cuarto Mundo (Diamela Eltit) e A chave de Casa (Tatiana Salem Levy).

PALAVRAS-CHAVE: Cuidado, Contrato Social, Gênero, Modernidade.