MEMÓRIA E FRAGMENTO EM K. - RELATO DE UMA BUSCA

Thais Sant’Anna Marcondes

Resumo


Este trabalho tem por objetivo analisar de que maneira Kucinski entrelaça umacervo de fragmentos pseudo-autobiográficos com a angústia do tempo ditatorial, no livro K. - Relato de uma busca. Neste sentido, começamos por abordar a questão histórica do livro a partir da leitura de Benjamin, numa visão qualitativa do tempo, em que se privilegia a vivência dos que fracassaram, trazendo à tona a memória dos fracassos tal como ela é lembrada no momento da escrita. Dado que nossa memória coletiva sobre essa época é cheiade lacunas impossíveis de serem preenchidas, o autor faz uso da fragmentação de pontos de vista em seu tecido narrativo, gerando uma plurivocidade de testemunhas. Para analisar essa forma de rememorar, partimos das reflexões teóricas de Ecléa Bosi, que põe em discussão os múltiplos caminhos pelos quais se constroem a memória. Por fim, este trabalho procura também refletir sobre o modo como o autor lida com o par “realidade X ficção”. A personagem desaparecida do livro é a irmã do próprio Bernardo Kucinski e o personagemcentral da maioria dos capítulos é seu pai. Além disso, o título da obra nos remete a um gênero textual composto a partir da memória real de quem o escreve. Para tratar disso, retomamos os estudos de Lejeune sobre o “pacto autobiográfico”. Assim, pretendemos propor uma leitura do livro não como simples busca de um pai pela filha desaparecida, mas uma obra que se propõe como reinvenção da memória deixada de lado pela história, num jogo em queas fronteiras da autobiografia e da ficção se confundem, se desgastam.

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