OS DESLOCAMENTOS MIGRATÓRIOS EM INFERNO PROVISÓRIO, DE LUIZ RUFFATO

Virginia Aparecida Ramos Filgueiras

Resumo


O exílio, para Edward Said, é secular, histórico, produzido de seres humanos para seres humanos e arrancou milhões de pessoas da tradição, da família e da geografia. A diferença entre os exilados de ontem e os de hoje é de escala, pois vive-se na era do refugiado, da pessoa deslocada, da imigração em massa, causada pela guerra moderna, pelo imperialismo e pelas ambições dos governos totalitários. A partir dessa concepção, o presente trabalho tem por objetivo discutir a trajetória de personagens ruffatianas que, almejando a prosperidade material, acabam se deparando com o impasse de não mais se adaptarem ao que deixaram para trás, ao “outro mundo”, mas também de não se reconhecerem em novos espaços, não pertencendo a lugar algum e sempre procurando algo melhor. Observa-se que, na maioria dos casos, a migração interna das personagens de Inferno provisório tem como finalidade a tentativa de estabelecimento ou de trabalho em espaços maiores que o da própria origem. Em poucos exemplos, vê-se a migração espontânea, predominando assim a migração forçada por motivos econômicos e sociais (falta de adaptação familiar, no ambiente de trabalho e na própria cidade). Nem toda migração se constitui definitivamente, nos textos. A identidade dos migrantes é fragmentada ou abalada em função das circunstâncias e momentos. A narrativa dos últimos cinquenta anos do século XX e dos primeiros do XXI trouxe como categoria central o trabalhador cataguasense, das classes operárias média e baixa, sem contar o expressivo número de personagens pertencentes ao lumpesinato. As mobilidades, os deslocamentos migratórios, a errância acarretaram desestruturação das famílias, solidão, exclusão, desassossego e ruínas. Além das reflexões de Said, considera-se, neste exame, publicações de Julia Kristeva, Lucia Helena e Walter Benjamin.

 

PALAVRAS-CHAVE: Inferno provisório, migração, Ruffato.


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