O TRABALHO POÉTICO EM UM TOLDO VERMELHO: A RELAÇÃO DA IMAGEM COM O INDIZÍVEL

Juliana Jordão Canella Valentim

Resumo


Na constituição da obra poética de Joaquim Manuel Magalhães, o termo reescrita, pensado como a rasura de uma escrita anterior, torna-se uma chave de leitura para o livro Um toldo vermelho, publicado em 2010. Neste livro, consta na nota final que os poemas ali reunidos substituiriam toda a obra poética anterior, espalhada em mais de nove publicações poéticas, antologias e publicações esparsas em periódicos. Desde a publicação de Dois crepúsculos, antologia crítico-ensaística sobre poesia portuguesa Pós 45, Magalhães revela a sua predileção por escritores que trazem como característica a metamorfose da linguagem literária. Esta bagagem teórica é aprendida através da observação do trabalho poético de Carlos de Oliveira. Mas, na produção poética de Um toldo vermelho, influenciada por estes nomes, o projeto textual sofre drásticas alterações. Ao invés de modificar apenas acentos gráficos, síndetos ou, como Herberto Helder, pensar num poema contínuo, Magalhães rasura versos, suprime conectivos e altera a organização narrativa, comum à sua escrita. Este projeto poético altera a compreensão das imagens e desloca o sujeito poético para o lugar do desconcerto. A imagem, na sua relação com a obra de arte, aparenta ser o índice de sobrevivência, para citar uma palavra de Didi-Huberman, da violenta rasura poética de Joaquim Manuel Magalhães. Esta comunicação pretende estudar a imagem e a rasura dentro de uma seção do último livro deste autor através do recorte que abarca “Alta noite em alta fraga”, última parte de Um toldo vermelho.

Palavras-Chave: rasura; reescrita; poesia portuguesa contemporânea.


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