ALGO ENTRE A TRADIÇÃO E A DISTRAÇÃO: NOTAS SOBRE A POÉTICA DE MANUEL ANTÓNIO PINA
Resumo
O presente trabalho propõe abordar a produção poética do escritor Manuel António Pina a partir de uma noção dupla e paradoxal de anacronismo: por um lado, através da ideia de uma neotenia, trazida por Giorgio Agamben em seu livro Ideia da prosa, em sua possibilidade de infância, abertura e ausência de conhecimento, como forma de inscrição anacrônica no presente, situada antes de qualquer saber ou tradição e, portanto, de distração, enquanto disposição ao não escrito; por outro, na ideia de uma tradição histórica em seu acúmulo e saturação, expressa, por exemplo, na noção anacrônica de tardio, formulada por Edward Said, quando exercer uma condição tardia significa viver rumo ao fim, com plena consciência, memória e ciência do presente. Caberia então refletir em que medida a poética de Manuel António Pina opera um contato com a história e com o contemporâneo por meio da figuração literária de uma temporalidade ao mesmo tempo neotênica e tardia, articulada em torno de eixos temáticos centrais de sua obra, como os da infância, da linguagem e da morte.
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