ÀS ARMAS, MULHERES! – A INFLUÊNCIA MÉDICO-JURÍDICA NA CONSTRUÇÃO DOS CEMITÉRIOS ROMÂNTICOS PORTUGUESES E A REVOLTA DA MARIA DA FONTE

Guilherme Nogueira Milner

Resumo


Na égide do filósofo francês Phillipe Ariès e do historiador Michel Lauwers, os mortos e os vivos conviveram nos mesmos espaços por mais de um milênio, considerando o costume dos católicos de enterrarem os cadáveres de seus mortos ao lado dos santos mártires, dentro das Igrejas, para que eles pudessem proteger a alma dos falecidos no julgamento final. Contudo, o que podemos verificar na história ocidental é que esse costume, que vai atravessar os anos até o meado do século XVIII sem chamar muita atenção, vai começar a sofrer ataques conforme nascia e crescia a influência do pensamento higienista francês. Doutrina higienista, esta, inclusive, que acabaria por migrar para outros países, como Portugal, onde uma “elite esclarecida” começaria a questionar as sepulturas eclesiásticas, criando, assim, toda uma literatura médica especializada em analisar miasmas cadavéricos e criticar essa proximidade dos mortos com os vivos dentro das cidades. Esses médicos do final do XVIII e início do século XIX tiveram grande sucesso na empreitada e conseguiram influenciar uma série de leis que buscavam proibir o enterro ad sanctos apud ecclesiam, como, por exemplo, o decreto de Rodrigo da Fonseca Magalhães de 1835 e as Leis de Saúde de Costa Cabral, de 1846. Desta última, resultou um levantamento popular majoritariamente de mulheres que ficou conhecido como a Revolta da Maria da Fonte. Um embate entre o sagrado e o secular, de mulheres que queriam garantir a tradição do enterro em Igrejas. Evento narrado por Camilo Castelo Branco, no Maria da Fonte, seguindo apontamentos de outros personagens da revolta minhota, que aqui trabalharemos.

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