SABER E NATUREZA NA POESIA DE SILVA ALVAREGA

Resumo

A convergência das atuações como Professor Régio, ilustrado e poeta na poesia de Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814) aparece sob contorno de dois grandes eixos: o caráter didático e a representação da natureza americana. A Arte Poética horaciana conduz a reflexão sobre o primeiro, atentando-se, porém, que é prudente diferenciar meros tons instrutivos, eventualmente encontráveis numa gama maior de textos, do que seriam efetivos poemas didáticos, conforme observa Matheus Trevisam (2014). Entende-se que há na poesia que instrui e deleita o potencial formador humano, confluente com os ideais do projeto de civilização vigente no século XVIII. A representação da natureza como chave de leitura, por sua vez, coloca a natureza idealizada, bucólica e árcade de matriz europeia em suspensão, uma vez que novos elementos naturais são centralizados nos poemas de Silva Alvarenga. A presença de árvores, flores, frutos e animais tipicamente americanos, por exemplo, aponta para uma preocupação de o poeta inserir o seu contexto rústico no cenário civilizado através de um instrumento essencialmente civilizado, que é a arte escrita.

Mediante este contexto, objetiva-se realizar uma análise crítica de poemas em que se observem procedimentos poéticos do autor associados tanto com pretensões educativas e de divulgação de conhecimento quanto com o pensamento ilustrado em voga que atravessava a concepção de um processo civilizatório. Para tanto, serão utilizados poemas em que se observem o estabelecimento de exemplaridades bem como os que fazem alusão à natureza tropical ou selvagem, antítese do que se consideraria civilização, procurando compreender as ambiguidades deste poeta que é um exemplo de ilustrado americano e que, portanto, transita entre dois mundos: o bárbaro e o civilizado, dicotomia proposta por leituras mais canônica passíveis de reflexões críticas.

PALAVRAS-CHAVE: Silva Alvarenga – Poesia – Educação – Natureza – Civilização