RELAÇÕES DE PODER E RESISTÊNCIA REPRESENTADAS NOS CONTOS DOS LIVROS “NINGUÉM MATOU SUHURA” E “OS OLHOS DA COBRA VERDE”, DA ESCRITORA MOÇAMBICANA LÍLIA MOMPLÉ

Carla Pereira Lima

Resumo


As narrativas literárias têm sido utilizadas como importantes fontes para pesquisa das práticas socioculturais. Além de oferecerem imagens sobre a realidade econômica, social e cultural de uma época, tais narrativas fazem uma espécie de inventário imagístico de uma sociedade, trazendo à tona alguns tipos humanos característicos, enfatizando seus costumes, suas angústias, suas identificações e seus “preconceitos”. Assim sendo, o presente trabalho de reflexão pretende investigar as representações imagens de uma época da literatura moçambicana de forma a lançar um olhar sob narrativas ficcionais de dois livros da escritora Lília Momplé: Ninguém matou Suhura, de 1988, e “Os olhos da cobra verde”. A escritora moçambicana, como mulher de seu tempo, imprime nessa obra elementos de diferentes discursos, no entanto, o que pontuaremos em nosso trabalho será o das relações de poder. Tomando discurso como um conjunto de práticas ou unidades dinâmicas constituídas e constituintes nos processos socioculturais e linguísticos, portanto, históricos de produção e recepção de sentidos (Molino, Jean). No caso da noção de relações de poder, é preciso ressaltar que elas não devem ser pensadas somente sob o prisma da opressão unívoca. Assim, é necessário destacar que o poder e as relações de poder não somente são um mecanismo coercitivo e negativo, mas também algo produtivo e positivo. Como diria Michel Foucault, em Vigiar e punir, o poder não apenas nega, impede, coíbe, restringe, esconde, recalca, limita, mas igualmente “faz”, produz, provoca, incita, encoraja e legitima. Assim, temos que ter em mente que tais relações são construídas não apenas por meio de mecanismos de repressão e censura, mas também através de práticas e discursos que instituem gestos, modos de ser e de estar no mundo, maneiras de falar e de agir, comportamentos, atitudes e posturas consideradas adequadas em determinado período, lugar e sociedade.

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