MEMÓRIA, HISTÓRIA E RESILIÊNCIA, EM UM DEFEITO DE COR.

Liozina Kauana de Carvalho Penalva

Resumo


O presente estudo propõe refletir sobre memórias da escravidão negra em solo brasileiro, a partir da leitura do romance Um defeito de cor (2006), de Ana Maria Gonçalves. Embora se trate de uma obra ficcional, Um defeito de cor é uma importante fonte de análise sócio-política e cultural dos povos africanos e afrobrasileiros, pois os relatos de memória da personagem protagonista Kehinde são fundamentais para a composição do cenário histórico África/Brasil e das relações interpessoais na sociedade brasileira escravista do início e meados do século XIX. Apesar de reconhecermos pessoas e fatos históricos em todo o romance, pode-se dizer que a principal função deles dentro da obra é dar destaque às memórias de Kehinde e promover fissuras no discurso unilateral da história oficial. Nesta obra, o mergulho no passado acontece para buscar outras vozes e experiências que não apenas aquelas já autorizadas, ou, nas palavras de Benjamin, para “escovar a história à contrapelo”, isto é, acrescentar vozes capazes de interferir no curso natural da história. Para embasar essa pesquisa utilizaremos as contribuições teóricas de Walter Benjamin, Eurídice Figueiredo, Paul Ricouer e Michel Foucault. A partir das reflexões desses estudiosos em torno do conceito de memória, história e cultura, a ideia é refletir sobre a importância da escravidão negra para a formação histórica da sociedade brasileira e também para a nossa constituição e compreensão enquanto sujeitos, considerando que a literatura brasileira e também a história oficial vigente ainda não contemplam essa temática de maneira profunda e abrangente. O movimento negro e as batalhas da cultura das africanidades continuam acirrados e intensos, ou seja, as consequências da escravidão permanecem sob diversas formas, o que nos obriga, enquanto estudiosos, a adentrar nesse fenômeno para compreender melhor as suas raízes e entender o seu percurso.

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