A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO ENUNCIATIVO, ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO, NO ROMANCE O MUNDO E NAS CRÔNICAS DE CUERPO Y PRÓTESIS, DE JUAN JOSÉ MILLÁS
Resumo
No romance O mundo e nas crônicas de Cuerpo y prótesis assumem a enunciação dois sujeitos diferentes que se relacionam enquanto críticos da sociedade a que fazem referência. Outro traço em comum é que nos dois casos existe a ficcionalização da figura do autor Juan José Millás. Em O mundo, o narrador construído por Millás, além de reconstruir a infância e a adolescência e realizar um exame de si mesmo, aproveita a rememoração do passado para criticar o momento pelo qual passava a Espanha da pós-guerra e do governo fascista de Francisco Franco (1939-1975). O difícil período vivido pelo país se manifesta na representação do corpo, nas relações humanas e na situação econômica da população, comentada pelo crítico narrador. Nas crônicas de Cuerpo y prótesis, podemos pensar que os vocábulos que compõem o título do livro, “cuerpo” y ”prótesis”, são metáforas da relação do autor com a escrita tecnológica do eu (Foucault), já que confessa Millás, senti-la, às vezes, como uma prótese sua e outras como ele próprio sendo uma prolongação artificial dela. Nestes textos, constrói Millás o narrador cronista, uma espécie de divulgador científico, crítico da sociedade contemporânea, que se debruça sobre as notícias lidas nos jornais e realiza uma sobreescrita (Gutiérrez) criticando como os avanços científicos-tecnológicos afetam os corpos, os saberes e as relações humanas. Esta investigação se centra, especialmente, na representação do corpo enfermo em O mundo e na presença do fenômeno pós-humano (Le Breton) nas crônicas, e, também, no aparecimento do monstro como metáfora do mal-estar do contexto histórico-social de produção das duas obras. Além disso, nota-se que uma certa tradição barroca reaparece nas obras manifestada no uso excessivo, isto é, distorcido da linguagem, nos estranhamentos, na cisão homem/corpo e no sentimento de (des)concerto do homem para com a vida e a ciência. Tomamos como noções críticas centrais a enunciação, a autoficção e o gênero crônica. (Bakhtin, Foucault, Alberca)
PALAVRAS-CHAVE: Sujeito enunciativo - Autoficção - Crônica - Monstro - Barroco
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