O TEATRO COMO ANTÍDOTO DAS REVOLTAS
Resumo
Na Cuba colonial, os setores hegemônicos tremem ante a possibilidade de que o negro repita os fatos acontecidos durante a Revolução haitiana e se empodere com anseios separatistas. Ante as cada vez mais extremas revoltas dos escravos e as conspirações antiescravistas, se discute em alguns setores a abolição da escravidão e a independência. Neste contexto, o espetáculo cômico se apresenta como um antídoto. Um gênero teatral satírico ridicularizante de características populares e cômicas, representado por atores brancos pintados de preto (que constituirá uma tradição de atuação ao longo dos séculos XIX e XX: o blackface) simula uma imagem complacente frente a estas injustiças: o Bufo cubano. A partir de 31 de maio de 1868, com a estreia dos Bufos Habaneros no teatro Villanueva, se conformará uma manifestação teatral que delimitará o surgimento de um teatro próprio. Paradoxalmente, este teatro toma o choteo, modo de expressão satírico cuja falta de seriedade funciona como mecanismo de sobrevivência dos setores hegemônicos frente a instabilidade sociopolítica, e o transforma em uma forma de resistência, de crítica teatral. Esta reapropriação põe em cena um teatro em que os personagens marginais são expostos no seu contexto histórico social e, mediante a chacota, transformam o gênero em expressão de oposição política sistemática, superando as intenções ridicularizantes e sustentadoras do status quo iniciais. O objetivo desta comunicação é analisar como este choteo teatral, ao trazer ao cenário as classes populares (mesmo que estereotipadas e tipificadas), se converte em um espaço de negociação social, étnica, racial e de constituição de identidades. Para alcançar este propósito, nossa análise se centrará em três peças que se destacaram no final do século XIX pelo amplo êxito alcançado: a trilogia Los negros catedráticos, El bautizo e El negro Cheche o Veinte años después, todas de Francisco Fernández.
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