DA LOUCURA À MEDIUNIDADE. O INSÍLIO EM NA MÃO DE DEUS (2012) DE PAULINA CHIZIANE

Camila Lima Sabino

Resumo


Na Mão de Deus (2012), obra escrita a quatro mãos pela escritora Paulina Chiziane e pela médium natural de Maputo Maria do Carmo da Silva, publicada em 2012, apresenta como tema a árdua trajetória do aflorar da mediunidade da protagonista Alice. Paulina revela que o percurso de Alice é a evocação de um drama próprio repleto de perturbações físicas e psíquicas, momento em que sofreu simultaneamente com o abandono da família, abandono motivado pelos preconceitos cultural e religioso. Assim como nos títulos Por quem vibram os tambores do além (2013) e Ngoma Yethu (2015), em Na mão de Deus (2012), a escritora traz como tema central a espiritualidade tradicional pensada a partir de terminologias e conceitos do espiritismo, do curandeirismo, e de outras dimensões religiosas moçambicanas. A redimensionalização dos papéis dessas religiosidades africanas na contemporaneidade será discutida a partir da obra A África Insubmissa (2013) de Achille Mbembe, na qual o intelectual camaronês reflete sobre as diferentes formas de recomposição do cristianismo em conflito com as religiões tradicionais africanas e sobre a insubmissão da religiosidade africana frente às falhas do cristianismo nesse processo de subjugação. O objetivo deste trabalho é, também, perquirir o isolamento em si mesma vivido por Alice, a partir do conceito espanhol insílio discutido por Chango Illanéz para tratar o isolamento do indivíduo dentro da própria pátria. Mais do que se exilar em sua própria casa, Alice, personagem construída por Paulina, se exila em seu próprio corpo e mente; e, nesse sentido, podemos dizer que valida um insílio no insílio. A trajetória gradativa do isolamento de Alice é um caminho para a descoberta de possíveis conjugações: entre as religiosidades ocidentais e tradicionais africanas e os saberes religioso e científico.


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