O RETORNO DO AUTOR E AS ESCRITAS DE SI NA FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Luciano da Motta Pereira

Resumo


Propomos com este trabalho investigar o retorno do autor e a forma peculiar como as “escritas de si” combinam gêneros textuais e diferentes formas discursivas na ficção brasileira contemporânea, comparando os seguintes romances: O filho eterno (2007), de Cristovão Tezza; Diário da queda (2011), de Michel Laub; Barba ensopada de sangue (2012), de Daniel Galera; e O irmão alemão (2014), de Chico Buarque. O procedimento de revirar as ruínas do passado a fim de poder enxergar melhor o presente, recorrente na ficção brasileira contemporânea, tem como uma de suas principais vertentes a inserção de eventos pregressos da vida e da carreira dos próprios autores na matéria narrativa. Só que as experiências reconhecidamente “reais” com as quais nos deparamos nos romances não os inserem na categoria da autobiografia, mas da autoficção. Uma simples conferência da autenticidade dos eventos narrados leva à constatação de que os dados objetivos e consistentes relacionados à “vida real” se embaralham com vozes, experiências, memórias e imaginações. Esses elementos atuam nos romances como “índices de ficcionalidade” que contradizem e perturbam os fatos narrados, tornando mais complexa para o leitor a tarefa de separar a realidade da ficção. Com uma escrita que joga com elementos da vida pessoal e que também alude a personagens e temáticas da própria fortuna literária, o autor contemporâneo faz uma ponte com seus próprios processos de escrita; revisita experiências, pensa e constrói o presente e o que está por vir; abre caminho para novos realismos.

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