Variação de Regência dos verbos "assistir" e "implicar": uma análise sociolinguística

Débora de Freitas Dias

Resumo


O presente trabalho aborda a variação de regência dos verbos “assistir” e “implicar”, escolha que reflete o desejo de que professores e alunos compreendam a realidade linguística como esta se apresenta: híbrida, mutável e heterogênea. Seguindo os preceitos de Labov (2008) e outros autores, esse estudo se fundamenta na Sociolinguística, corrente linguística para a qual a variação é inerente a todas as línguas naturais. Além disso, na interface com o ensino de Língua Portuguesa, a proposta se apoia nos fundamentos de Stella Maris Bortoni-Ricardo (2004), que estabelece contínuos como forma de distribuição das variedades: o continuum rural-urbano, o de oralidade-letramento e o da monitoração estilística, almejando a construção de um modelo que comporte o conjunto de variedades que compõem o mosaico linguístico brasileiro. Dentro desse panorama, a pesquisa objetiva o confronto entre Gramáticas Normativas e recentes Gramáticas de cunho majoritariamente descritivo, visando refletir sobre o comportamento variável das regências verbais e tornando viável o questionamento das diferentes acepções pregadas por cada um desses suportes, observando o tratamento estritamente gramatical no primeiro caso, e uma análise mais propriamente linguística, no segundo caso. Para exemplificar esse comportamento, serão exploradas reportagens e crônicas do jornal O Globo, contrapondo estilos mais e menos monitorados, respectivamente. Posteriormente, pretende-se ampliar o corpus com o jornal Extra, que se destina a uma classe menos prestigiada. Embora haja expectativa de que eles veiculem o uso da chamada língua padrão, pode-se perceber que a depender do público-alvo (o primeiro se destina a um público de mais prestígio, e o segundo a um público de menos prestígio), do estilo em que se encontra o texto, dentre outros fatores, verificam-se mudanças significativas na regência. Portanto, o trabalho visa contribuir para a implementação de um ensino mais democrático nas escolas, compreendendo que só assim, poderá ser feito um levantamento justo e que abarque a realidade linguística multifacetada constitutiva da sociedade.

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Referências


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