“ESTÓRIAS QUE A HISTÓRIA TECE”: REFLEXÕES A PARTIR DO ROMANCE SE O PASSADO NÃO TIVESSE ASAS, DE PEPETELA

Sheila Ribeiro Jacob

Resumo


Partindo da leitura do último livro lançado por Pepetela, intitulado “Se o passado não tivesse asas” (Leya, 2016), abordaremos as relações entre história e literatura que se apresentam neste romance. A obra em questão se constrói a partir de duas histórias espelhadas, que são apresentadas de forma intercalada e se desenvolvem em tempos distintos da história de Angola: 1995, ano de guerra civil, e 2012, uma década depois que a “paz desdobrou [oficialmente] sua manta sobe o país” (p. 349). No primeiro núcleo, acompanhamos Himba e Kassule, “filhos da guerra” (p. 64), crianças amadurecidas pelo horror do momento histórico em que vivem e que precisam empreender uma verdadeira luta diária pela sobrevivência em Luanda. Condenados a dormir na rua e alimentar-se das sobras de um restaurante, ambos vão estabelecendo as relações de afeto possíveis em condições tão difíceis. Já o segundo núcleo narrativo nos apresenta a história de Sofia e Diego, irmãos que habitam uma cidade já liberta dos perigos da guerra declarada, mas que está voltada àespeculação imobiliária e ao luxo de poucos privilegiados, perpetuando as desigualdades sociais que se arrastam desde os tempos coloniais. Procuraremos, portanto, refletir acerca dos sentidos mobilizados pela convocação da história pela literatura, especialmente no romance em questão. Acreditamos que o passado, da forma como se elabora por meio dessa ficção,possibilita reflexões acerca do tempo presente, principalmente com relação a novas formas deviolência à produção de vidas descartáveis e invisíveis em tempos neocoloniais, em que é necessário empreender esforços éticos e afetivos para que não se confirme a previsão do personagem Diego, para quem a “ditadura da ganância” (p. 371) parece se afirmar como único destino possível.

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