MONSTROS DA CIDADE PÓS-MODERNA

Pedro Puro Sasse

Resumo


Jeffrey Jerome Cohen abre o livro Monster Theory: Reading Culture (1996) com um ensaio que propõe que é possível ler a cultura de determinada sociedade através dos monstros engendrados por ela. Monstro, nesse sentido, descola-se do conceito estrito de criaturas do horror sobrenatural, mas tampouco perde sua especificidade: são monstros as figuras que corporificam as ansiedades, inseguranças e medos – mas também as fantasias, o delírio e o desejo – de uma comunidade. São feitos, dirá Cohen, de pura cultura, e dessa forma, sintetizam certo zeitgeist. Um dos mais populares monstros da pós-modernidade é o serial killer. Abundantemente presente na ficção – mas não apenas restrito a ela – essa figura simboliza com perfeição a, em termos baumanianos, ubiquidade do medo nessa modernidade líquida que, apesar de ter atingido o ápice da tecnologia de segurança, vigilância e controle, nunca se sentiu mais frágil. Há, no entanto, no Brasil, um descompasso entre os monstros que se popularizam na ficção – importados de fora – e os medos próprios de nossa cultura. Aqui, não são nossos quase desconhecidos assassinos seriais, como Febrônio, Chico Picadinho ou o Vampiro de Niterói, que inspiram a ficção ou povoam as manchetes de jornal e, por consequência nosso imaginário de medo. São outros os monstros que engendramos. Para o cidadão metropolitano, sobretudo, a figura do serial killer dá lugar a outro tipo de criminoso, o traficante. Com base em obras como Cidade de Deus (1997), Inferno (2000) e Abusado (2003), nos propomos, nesse trabalho, a investigar a construção da personagem traficante – não a figura real – como monstro, analisando sua presença na literatura e lendo, a partir de seus signos, uma cultura que tem muito a dizer sobre segregação social, racismo e espetacularização da violência.

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