MEMÓRIA E FRAGMENTO EM K. - RELATO DE UMA BUSCA

Thaís Sant'Anna Marcondes

Resumo


Este trabalho tem por objetivo investigar de que maneira Kucinski entrelaça um acervo de fragmentos textuais com a angústia do tempo ditatorial, no livro K. - Relato de uma busca. Começamos por abordar a questão histórica do livro a partir de Benjamin, numa visão qualitativa do tempo, em que se privilegia a vivência dos que fracassaram, trazendo à tona a memória dos fracassos tal como ela é lembrada no momento da escrita. Dado que nossa memória coletiva sobre essa época é cheia de lacunas impossíveis de serem preenchidas, o autor usa a fragmentação de pontos de vista em seu tecido narrativo, gerando uma plurivocidade de testemunhas. Para analisar essa forma de rememorar, partimos das reflexões teóricas de Freud, Ecléa Bosi, Paul Ricoeur e Maurice Halbwachs, que põem em discussão os múltiplos caminhos pelos quais se constroem a memória e se impõe o esquecimento. Este trabalho procura também refletir sobre o modo como o autor lida com o par realidade X ficção. Para tratar disso,  retomaremos os estudos de Lejeune sobre o “pacto autobiográfico” a fim de discutir sobre outro tipo de pacto proposto no livro, que transgride ao mesmo tempo o plano ficcional e o referencial. Pretende-se tratar, por fim, do diálogo entre a obra e o universo kafkiano, já que denunciando os crimes do governo autoritário brasileiro e apresentando um cenário em que, a cada passo, parece ficar mais distante de respostas, o personagem, movido pelo que John Steiner chamou de “refúgio psíquico” que o cegou e o distanciou da realidade da filha, se encontra numa situação-limite.

PALAVRAS-CHAVE: memória, ditadura, fragmento, Kucinski

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