O MEDO DO OUTRO: A CULTURA CAINITA DE ALTERIDADE MORTAL

Luiz Jorge Guimarães

Resumo


O que é o medo em si? Geralmente, quando se recepciona este convidado indesejado, faz-se tal acolhida, ou por falta de opção, enquanto instinto de sobrevivência que mantém os seres em um tipo de linha de salvaguarda, ou por encontro com o indesejado, com o diferente, que se posta perante o indivíduo como tudo aquilo que transgride as raias do próprio eu. Mas isso valida o medo como um conceito ou como coisa que o valha? Parcialmente, sim. Isso porque não há como enquadrar o medo apenas em duas categorias excludentes que ora indicam um limite do Eu, dizendo “até aqui eu posso ir, mas, se passar desta linha, não poderei manter-me acautelado”, ora trazem ao encontro do Eu as fantasias mais obscuras da imaginação, produzindo, assim, a deformidade das idéias, ou, melhor, recriações fantasmagóricas, pelo receio ao desconhecido, fato este que muitas vezes produz uma aversão ao Outro não só pela falta de contato, e distanciamento, como também pela inflexão do indivíduo, atônito, perante a imagem distinta, não se permitindo um confronto face a face, por não querer ver a si mesmo sob outra perspectiva e, de modo narcisista, reconstruindo o Outro conforme as deliberações de sua imaginação e seus devaneios. Fato que fora demonstrado por Sigmund Freud em seu ensaio Luto e Melancolia (2010), quando ele analisara as relações de perda e de manutenção do objeto perdido dentro do próprio ser.


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