CRÔNICA, O GÊNERO. ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO, O PÓS-HUMANO NAS NARRATIVAS DE JUAN JOSÉ MILLÁS

Fabricio Silva Oliveira

Resumo


Os avanços científicos e tecnológicos que vêm modificando cada vez mais os corpos, os saberes e as relações humanas são conseqüências do processo de individualização do homem intensificado no decorrer dos séculos. Apesar de já não ser novidade a presença da ciência e tecnologia como temática literária desde quando criou Mary Shelley o monstro de Frankstein, considerado o primeiro personagem da ficção científica narrativa, o escritor espanhol Juan José Millás, em suas crônicas publicadas no jornal e também em livro, propõe-se a (sobr)escrever (Julio Ramos), como uma espécie de divulgador científico, sobre o fenômeno pós-humano (Le Breton, Santaella) presente nas notícias e nos artigos lidos nas outras partes do jornal. No entanto, como ficcionista, não deixa de lado a criatividade, entrando no que podemos chamar de literatura fantástica contemporânea ou o fantástico da literatura em suas discussões sobre o fenômeno em questão, neste gênero fronteiriço entre a realidade e a ficção, entre o jornal e a literatura que é a crônica. Além do mais, nas crônicas de Cuerpo y prótesis (2009), podemos pensar que os vocábulos que compõem o título do livro, “cuerpo” y “prótesis”, são metáforas da relação do autor com a escrita tecnológica do eu (Foucault), já que confessa Millás, senti-la, às vezes, como uma prótese sua e outras como ele próprio sendo uma prolongação artificial dela. Esta investigação se centra, assim, na análise da presença do fenômeno pós-humano nas crônicas selecionadas, e, também, no aparecimento do monstro como metáfora do mal-estar do contexto histórico social de produção destas narrativas. Além disso, nota-se que uma certa tradição barroca reaparece nas obras manifestada no uso excessivo, isto é, distorcido da linguagem, nos estranhamentos, na cisão homem/corpo e no sentimento de (des)concerto do homem para com a vida e a ciência. Tomamos como noções críticas centrais o gênero crônica e o pós-humano (Julio Ramos, Andrés-Suárez, Moisés, Le Breton, Santaella).

 


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