TRANSINVESTIGAR: NEM HOMEM, NEM MULHER, NEM ENIGMA, NEM NOIR

Diana da Silva Rodrigues

Resumo


A literatura detetivesca é considerada um gênero literário marginal ao ser comparada com a centralidade das literaturas consideradas cânone. Ao direcionar o olhar a pessoas, estas também são postas em marginalidade ao não seguir os modelos de gênero considerados hegemônicos. Partindo dessas marginalidades, o seguinte trabalho visa analisar como essas marginalidades se juntam para questionar os modelos hegemônicos de gênero e de narrativa ao se utilizar na obra Batons, assassinatos e profetas de Mehmet Murat Somer (2010) de uma personagem Trans exercendo o papel de detetive em busca de um serial killer que tem como alvo as travestis locais.  O objetivo é analisar como ao questionar os gêneros sociais e literários hegemônicos, a obra também questiona os modelos gêneros dos quais se utiliza (transgêneros e narrativas detetivescas) a fim de confrontar a hegemonia criada na marginalidade que assume o papel de cânone marginal, ou seja, como alguém que não é homem nem mulher se utiliza de uma narrativa detetivesca que não é nem de enigma e nem noir a fim de questionar a cisgeneridade, a binaridade transgênera e a hegemonia de detetives como Holmes e Poirot. Para tanto, pensadores como Kayman (2003), Holquist (1971), Gomel (1995), Saggs (2005) e Grella (1988) nos auxiliarão a compreender as narrativas detetivescas, enquanto Jesus (2015), Vergueiro (2015), Louro (2003) e Stryker (2008) nos ajudarão a compreender os gêneros sociais e seus questionamentos. Assim, veremos como algo novo surge da marginalidade e de suas tensões com a hegemonia.


Texto completo:

PDF

Referências


BORNSTEIN, Kate. My Gender Workbook. New York: Routledge, 1998.

CARDOSO, André Cabral de Almeida; PORTILHO, Carla de Figueiredo. Os dilemas do indefinido: utopia, fluidez e subjetividade em Stone, de Adam Roberts. Ilha do Desterro a Journal of English Language, Literatures in English and Cultural Studies, [s.l.], v. 70, n. 2, p.107-118, 5 jun. 2017. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). http://dx.doi.org/10.5007/2175-8026.2017v70n2p107.

COUTINHO, Eduardo F. “Literatura comparada, literaturas nacionais e o questionamento do cânone”. Revista Brasileira de Literatura Comparada, Uberlândia, v. 3, n. 3, p. 67-74, ago. 1996.

ECO, Umberto. O super-homem de massa: retórica e ideologia no romance popular. Traduzido por Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 1991.

GILBERT, Elliot G... The Detective as Metaphor in the Nineteenth Century. Journal of Popular Culture, New Jersey, v. 3, n. 1, p.252-262, dez. 1967.

GOMEL, Elana. Mystery, Apocalypse and Utopia: the Case of the Ontological Detective Story. Science Fiction Studies, v. 22, n. 3, p. 343-56, 1995.

GRELLA, George. The hard-boiled detective novel. In: Detective fiction: a collection of critical essays, ed. Robin W. Winks. Woodstock, VT: Countryman Press, 1 ed.1988.

HOLQUIST, Michael. Whodunit and Other Questions: Metaphysical Detective Stories in Post-War Fiction. New Literary History, v. 3, n. 1, Modernism and Postmodernism: Inquiries, Reflections, and Speculations, p. 135-156, 1971.

JESUS, Jaqueline Gomes de. Transfeminismo: Teorias e práticas. 2 ed. Rio de Janeiro: Metanoia, 2015.

KAYMAN, Martin A. The short story from Poe to Chesterton. In: The Cambridge companion to crime fiction, ed. Martin Priestman. Cambridge, UK; New York: Cambridge University Press, 2003. p.41-58.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 2003

NIXON, Nicola. Making monsters, or serializing killers. in MARTIN, Robert K.; SAVOY, Eric. (org). American gothic: new interventions in a national narrative. Iowa: University of Iowa Press, 1998.

PORTER, Dennis. The private eye. In: The Cambridge companion to crime fiction, ed. Martin Priestman. Cambridge, UK; New York: Cambridge University Press, 2003. p.95-113.

PORTILHO, Carla. Detetives Ex-Cêntricos: Um Estudo do Romance Policial Produzido nas Margens. 2009. 285 f. Tese (Doutorado em Letras – Literatura Comparada) – Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.

SCAGGS, John. Crime fiction. New York: Routledge, 2005.

SOMER, Mehmet Murat. Batons, assassinatos e profetas. Tradução de Rafael Mantovani. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

STRYKER, Susan. Transgender History. New York: Seal Press, 2008.

VERGUEIRO, viviane. Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, Salvador, 2015.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.