MULHER: DISCURSOS EM TENSÃO

Anne Gabrielle da Silva Muniz

Resumo


RESUMO: Este artigo aborda parte de uma pesquisa de mestrado, em desenvolvimento, cujo objetivo é pensar a circulação e o funcionamento de discursos da/sobre a mulher. Interessa-nos analisar formulações que buscam definir o que é ser mulher, tais como “a mulher é/não é”, e que prescrevem comportamentos às mulheres, tais como “a mulher tem que/não tem que” e “a mulher deve/não deve”. Para tal, elegemos sequências discursivas pertencentes a um grupo da rede social Facebook e a uma página da mesma plataforma, nos quais circulam dizeres que materializam discursos em tensão. O referencial teórico-metodológico é o da Análise do Discurso francesa (AD) proposta por Michel Pêcheux (1969[1995], 1975, 1984[2011]) e desenvolvida no Brasil por pesquisadoras como Eni Orlandi (2001, 2005, 2010), e Freda Indursky (1997, 2000, 2008). Interessa-nos pensar o funcionamento discursivo e, para tal, mobilizaremos conceitos da AD como sujeito, discurso, historicidade, interdiscurso e heterogeneidade. Nossos objetivos são discutir como operam os discursos da/sobre a mulher e quais os efeitos de sentido em circulação quando são usados termos como “machista”, “feminista” e “antifeminista”. Em nossas análises, observamos enunciados constituídos na/pela tensão, uma vez que as sequências discursivas em nosso corpus materializam dizeres que: a) reproduzem saberes “machistas” ainda que os sujeitos se enunciem como “feministas”; e b) reproduzem o discurso machista no caso de sujeitos que se enunciam como “contrárias ao Feminismo[1]” (ao que estamos relacionando ao discurso antifeminista), porém, também a partir de um discurso de “liberdade de escolha”, o qual seria, a princípio, marca de um discurso feminista. Nossas análises suscitam, ainda, dois outros  questionamentos: i) estaria, de alguma forma, interdito a uma mulher se colocar como ‘machista’ atualmente?; e ii) como opera o processo de repetição/transformação de sentidos no que se refere ao discurso antifeminista, uma vez que o mesmo parece ser constituído no/pelo funcionamento de dois discursos antagônicos entre si: o machista e o feminista?

PALAVRAS-CHAVE: discurso; mulher; tensão


[1] Neste trabalho, a palavra “Feminismo” – enquanto movimento – será grafada com letra inicial maiúscula, como forma de resistência, pela identificação política da mestranda com o tema. O mesmo não acontecerá com palavras como antifeminismo, machismo. Os adjetivos “feminista”, “machista” e “antifeminista” serão grafados com letra inicial minúscula em concordância com a Língua Portuguesa.


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Referências


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Créditos da IMAGEM 1

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