A CORRELAÇÃO ADITIVA NOS SÉCULOS XVII E XVIII À LUZ DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO

Brenda da Silva Souza

Resumo


Esta pesquisa objetiva analisar as construções correlatas aditivas nos séculos XVII e XVIII a partir dos referenciais teóricos oferecidos pela Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU). De acordo com a LFCU, a língua é concebida como uma rede de pares convencionalizados entre forma e significado (TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013, p. 1), e a gramática não é vista como uma estrutura rígida, mas maleável, “que está num contínuo refazer-se” (FURTADO DA CUNHA; COSTA; CEZARIO, 2015, p. 42) e, por isso, está sempre sujeita a mudanças e inovações decorrentes do uso. Nesse ínterim, contrariando a abordagem teórica mais tradicional, que geralmente elenca somente a coordenação e a subordinação como processos de estruturação de cláusulas, defendemos a hipótese de que a correlação aditiva muito se difere da coordenação aditiva, conforme resultados já evidenciados em Rosário (2012) e Gervasio (2016) e, por isso, merece ser analisada de forma autônoma. Nesse sentido, objetivamos apresentar uma análise qualiquantitativa das construções correlatas aditivas em uso nos séculos XVII e XVIII, a fim de cooperar com a elaboração de um quadro completo da descrição desse tipo de construção na língua portuguesa, a partir dos estudos funcionalistas. Em nossa metodologia, que possui caráter não somente teórico, mas também empírico, orientamos nossas análises a partir dos dados coletados de corpora de modalidade escrita. A consideração de fatores de frequência, especialmente as noções de frequência type e token (BYBEE, 2007), bem como a relevância de fatores intra e extralinguísticos nortearam nossas análises.


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