Resumo
Este trabalho apresenta uma análise dos efeitos de sentido dos usos da conjunção “e” em duas crônicas jornalísticas publicadas no jornal “O Globo”, uma vez que seus significados fogem às interpretações mais básicas, em função de seu caráter polissêmico. Tradicionalmente, o “e” é classificado como conjunção aditiva, que reúne termos ou orações independentes e de mesma função gramatical. Entretanto, estudos que enfocam seu caráter discursivo, como os de Azeredo (2014) e Mateus (2003), percebem o “e” como um elo que une partes de um texto e que é dotado de diferentes significados que podem ser incorporados à adição. Dos significados possíveis, percebeu-se que os três mais utilizados foram acréscimo ou reforço argumentativo, consequência, sucessividade ou simultaneidade, de forma a adicionar valor semântico de subordinação à coordenação. Seguindo pressupostos teóricos da Teoria Semiolinguística de Análise do Discurso cunhada por Patrick Charaudeau (2005), o comportamento dos autores das crônicas também foi analisado a partir dos usos da conjunção pesquisada para se perceber como eles representam suas subjetividades. Seja com caráter menos ou mais humorístico, os mesmos efeitos de sentido nos usos do “e” foram encontrados, o que é significativo, pois eles não ficam restritos a um registro específico. A partir dos resultados obtidos, podem-se perceber inúmeras possibilidades de construção de sentido e de representação da subjetividade(s) através do uso de uma conjunção tão comum e básica da nossa língua.
Referências
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 3 ed. São Paulo: Publifolha, 2014.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2014.
CUNHA, Celso. Gramática do português contemporâneo: edição de bolso. 2 ed. Org: Cilene da Cunha Pereira. Rio de Janeiro: Lexicon; Porto Alegre: L&PM, 2008.
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 49.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
MATEUS, Maria H. M. et al. Gramática da Língua Portuguesa. 5 ed. Lisboa: Editorial Caminho, 2003.
MONNERAT, Rosane. Possibilidades discursivas do e – um conector coringa. In: Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 4, n. 1, p. 185-203, jul./dez. 2003.
NEVES, Maria Helena de Moura. O estatuto das chamadas conjunções coordenativas no sistema do português. Alfa, São Paulo, n. 29. p. 59-65, 1985.